quinta-feira, 26 de junho de 2008

Workshop, Dias 02 e 03: Larry e Salamandras

Salamandra Plethodon cinereus encontrada
na saída de campo durante o workshop
Foto: © Daniel De Granville, 2008


Salamandras, árvores que tomam injeção, insetos devorando insetos. Após as apresentações teóricas do início do workshop, passamos os dois últimos dias conhecendo na prática os ambientes naturais da região e a maneira como estão sendo feitos os trabalhos de conservação por profissionais da área.

Na terça-feira (24) fomos visitar o principal atrativo turístico da região – a Grandfather Mountain – que sozinha recebe 250 mil visitantes por ano. A área, reconhecida pela Unesco como Reserva da Biosfera em 1992, é até o momento a primeira e única localidade privada a receber tal reconhecimento. A operação turística oferece grande variedade de atividades aos visitantes, desde passeios leves para toda a família até trilhas que exigem experiência prévia em caminhadas pesadas. O presidente da empresa, Crae Morton, junto com o naturalista Jesse Pope, nos apresentou ao ambiente das montanhas e relatou os principais aspectos envolvidos na operação.

Paisagem da Grandfather Mountain
Foto: © Daniel De Granville, 2008


Um dos destaques foi o tratamento que vem sendo feito nos pinheiros conhecidos como “Eastern Hemlocks” (Tsuga canadensis). Acometidas por uma praga exótica fulminante – os pulgões Adelges tsugae – as populações desta árvore-ícone encontram-se seriamente ameaçadas. Os primeiros registros da praga na região foram feitos em 2002. Na Grandfather Mountain está sendo aplicada uma técnica inovadora que consiste na injeção do inseticida Imidacloprido diretamente nos troncos das árvores acometidas pelos pulgões. Ao se alimentarem dos brotos do pinheiro, eles ingerem o veneno diluído na seiva e morrem.

No campus da Lees-McRae, os pinheiros "Hemlock"
estão morrendo em função da infestação por pulgões
Foto: © Daniel De Granville, 2008



"Larry"
Já no campus da Lees-McRae, o pesquisador Stewart Skeate aposta em outra alternativa, o controle biológico feito através dos besouros Laricobius nigrinus, nativos do oeste dos Estados Unidos e que se alimentam do Adelges. Adquiridos pela universidade em 2003 a um custo aproximado de US$ 2 cada, 300 indivíduos foram soltos suas florestas, que possuem raros exemplares de “Hemlocks” centenários, parte dos quais tomados pelos pulgões. Recentemente, Skeate constatou novas gerações de Laricobius – os filhotes da primeira leva – que aos poucos vão vencendo a batalha. O entusiasmo do cientista pode ser medido pela maneira com que trata seus besouros, carinhosamente chamados por ele de “Larry” em alusão ao nome científico da espécie.

Stewart Skeate com exemplares do
besouro usado no controle de pulgões
Foto: © Daniel De Granville, 2008


" O Chamador de Sapos"
Enquanto isto, em uma área do campus da Lees-McRae muito próxima dos campos de pesquisa de Skeate, um grupo de animais parece estar conseguindo manter suas populações em melhores condições. As salamandras, anfíbios comuns na América do Norte e Europa e pouco presentes nos trópicos, encontram na região das montanhas da Carolina do Norte condições ideais para sua sobrevivência: a combinação de climas amenos, altos índices pluviométricos e abundância de riachos. Assim, esta área abriga a maior diversidade mundial de salamandras do planeta, com cerca de 50 espécies podendo ser encontradas no solo e córregos de suas matas. Mas esta variedade aparentemente soberana também está ameaçada pela ação humana, devido à perda de habitats e alterações nos padrões climáticos.

O futuro destes anfíbios está nas mãos de pessoas como o Dr. Wayne Van Devender, professor de herpetologia e autoridade em salamandras na Appalachian State University, que possui ainda o incrível talento de imitar com perfeição o chamado de sapos e pererecas. Esta noite passamos algumas horas em sua companhia, às margens de um brejo, aprendendo sobre salamandras enquanto as procurávamos sob troncos caídos, folhas secas e dentro de riachos. “Os anfíbios estão desaparecendo do planeta. Às vezes são apenas alguns indivíduos, às vezes são populações inteiras. E em outras ocasiões espécies simplesmente se extinguem”, afirma Van Devender.

Busca noturna por salamandras
com o Dr. Wayne Van Devender
Foto: © Daniel De Granville, 2008


Após um dia de trabalho intenso, retornamos ao alojamento do campus com 5 novas espécies de animais para nossa lista e a certeza de que pessoas como Stewart Skeate e Wayne Van Devender são fundamentais na batalha contra inimigos muito fortes para as frágeis espécies que defendem com tanta dedicação.

terça-feira, 24 de junho de 2008

Workshop, Dia 1: Educação Global



Hoje começou o Grandfather Mountain International Workshop, evento sobre educação e ciência do qual estou participando em Banner Elk, Carolina do Norte (EUA). Até a próxima sexta-feira (27 de junho), 32 educadores formais e não-formais estarão realizando trabalhos voltados ao ensino de ciências em diversos níveis. A programação enfatiza práticas de investigação científica em campo, onde seremos divididos em equipes que deverão desenvolver projetos distintos ao longo da semana, voltados a temas como recursos hídricos, qualidade do ar e biodiversidade. As atividades incluem saídas com especialistas de áreas variadas, sempre ligadas às questões sócio-ambientais.

Na programação do primeiro dia, duas palestras introdutórias aos ambientes naturais da região das Blue Ridge Mountains (a cadeia montanhosa onde estamos localizados) e sobre tendências para a educação das ciências. Michael Tally, supervisor científico nas escolas públicas do Condado de Wake, falou sobre o papel da educação científica frente à globalização e a posição dos EUA no processo. Com a crescente internacionalização das empresas norte-americanas, cada vez mais os trabalhadores do país necessitam vivenciar diferentes realidades das nações com as quais mantém relações. “Nossos alunos precisam conviver globalmente, pois irão trabalhar globalmente”, afirmou Tally. “As escolas devem ser um ambiente de trabalho multiétnico e multinacional, e dez mil professores conscientes equivalem a dez milhões de mentes conscientes”. Mas o que isto tem a ver com turismo científico?


Turismo Científico Entrando em Cena

Tally enfatizou o fato de que não há como um professor ensinar sobre um tema do qual não tem conhecimentos. Ou seja, para se educar com visão global, é necessário vivenciar experiências globais – e é exatamente isto que o NCSU Sci-Link, idealizador e promotor do evento, proporciona. Através de expedições anuais partindo dos EUA para o Brasil, o Sci-Link conecta cientistas, professores e estudantes dos dois países, transformando conhecimento científico e vivências internacionais em práticas pedagógicas. Os participantes das viagens realizadas pela entidade – organizadas em conjunto com o Instituto Sangari e a Ambiental Expedições – passam duas semanas no Brasil, geralmente no mês de julho, visitando a cidade de São Paulo e ambientes naturais como a Mata Atlântica, o Pantanal e Bonito, em Mato Grosso do Sul. Durante este período, realizam atividades semelhantes às que estamos desenvolvendo durante esta semana de workshop.


Dra. Harriett Stubbs, Diretora do
NCSU Sci-Link, abre o Workshop
Foto: © Daniel De Granville, 2008


Este será o segundo ano que eu acompanho os grupos do Sci-Link pelo Pantanal e Bonito, mas antes eu vou sentir como é estar do outro lado. Pela primeira vez em minha carreira, durante os próximos dias eu serei o “turista científico” conduzido por outros profissionais com a obrigação de atingir os objetivos de trabalho propostos, e não o “guia naturalista” que acompanha os turistas para garantir que tudo vai ser cumprido por eles. Amanhã tem mais novidades!
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Leia entrevista que a Dra. Harriett Stubbs, diretora do NSCU Sci-Link, concedeu ao site “Planeta Sustentável”.
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Saiba mais sobre minha viagem no blog Photo in Natura

terça-feira, 3 de junho de 2008

Bem Vindo (a)!

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Bem vindo ao blog "Turismo Científico", o primeiro site na internet brasileira dedicado exclusivamente ao tema. Para navegar pelo conteúdo completo, basta seguir os menus disponíveis na coluna à direita. Obrigado por sua visita!

Este trabalho foi desenvolvido como projeto de conclusão do curso de Especialização em Jornalismo Científico, oferecido pelo Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo da Universidade Estadual de Campinas (Labjor - Unicamp).

As primeiras atualizações de conteúdo ocorrerão a partir de 20 de junho, quando estarei nos EUA a convite da NCSU Sci-Link participando de um workshop, além de realizar duas palestras e exposições fotográficas sobre o Pantanal e Bonito.


A G R A D E C I M E N T O S

Foto: © Daniel De Granville, 2006


Agradeço imensamente a todos que colaboraram com informações, idéias, sugestões, críticas e depoimentos: os pesquisadores, operadores de turismo, viajantes que já participaram em atividades de turismo científico, hotéis e pousadas pantaneiras. Mesmo se o teu nome ou a tua entrevista não tiver aparecido nos textos finais, pode ter certeza de que sua contribuição foi fundamental para o resultado do meu trabalho.

Muito obrigado!

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